sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O mágico da Rua 93

Venham que minhas palavras talvez sejam insignificantes, mas que o belo sorriso da moça os faça ver a beleza, a gentileza, a crueldade. Se vocês fossem prestar atenção ao que lhes digo, veriam: parece adorável que alguém sente na rua e lhes conte historinhas para que fiquem encantados, mas não poderiam essas serem histórias de terror? E se todos aqueles monstros que moravam embaixo de tuas camas voltassem para os atormentar? Desculpem-me se ao longo de nossa jornada citarei cenas horríveis e lhes contarei sobre humanos monstruosos, mas a verdade é que, se há trevas atormentando almas, talvez atormentarão a de vocês, também. Boas intenções são bem-vindas, sim, para serem estraçalhadas e jogadas fora. Obrigado de qualquer jeito pela preocupação.
Não me perguntem por quê. Poupem um pobre mágico de pedidos de esclarecimento de dúvidas. Não me sentei aqui nessa rua para lhes explicar nada, entendam. Sentei-me aqui para contar. E enquanto conto teus ouvidos devem estar abertos e atenciosos e suas perguntas caladas e amarradas numa cadeira aos fundos de tuas mentes. Se um mágico diz, obedeça. Ou fuja correndo, se assim lhe for conveniente, e enquanto há tempo. O que lhes digo é a verdade, não é coisa que invento.
Tenho aqui uma caixa, tal que me alimenta. De sonhos. Sonhos da vida da gente. Mas, que pena, todos esses sonhos, sonhados em vão. Tantas foram as esperanças que foram criadas em cima deles, e vejam, eles fracassaram. Desapontaram. A menina que queria um amor verdadeiro. O menininho que queria ser jogador de futebol. A moça que desejava liberdade. O rapaz que queria conhecer a família. Todos. Eles. Em vão.
Não, não chorem ainda, tenho certeza de que seus desejos serão muito bem concedidos. Se a imaginação lhes for fértil, é claro. Agradeço pela paciência e atenção. O mágico aqui se vai lhes desejando um mundo de magia e ilusão. Sejam felizes enquanto podem ou pensam que são. E da Rua 93 me despeço dizendo que nunca estive aqui e que suas mentes se mostram agora mais enganosas que de costume. Se me vir passar novamente, por favor não insista, um mágico nunca revela seus truques. Tout le monde cherche quelqu’un pour jouer avec. Tout le monde cherche et ne le va pas rencontrer. Au revoir.

domingo, 13 de novembro de 2011

Queria/Quero

Saudade era o meu pior inimigo. Não conseguia lutar contra você na minha cabeça. Por quê? Pra quê? Se eu sabia que não era o certo, por que eu insistia em gostar tanto?

E como eu sinto saudade de você, de como você era, do modo que olhava pra mim, do jeito carinhoso, como me escutava, bem da sua maneira atrapalhada, bem desgrenhado, insano! Uma coisa linda: simplicidade.

Nossos momentos juntos estão guardados numa caixinha, trancados. Acho que perdi a chave e você não sabe onde ela está. Tudo passou tão rápido, mas foi inesquecível, sendo assim bem clichê. Queria você aqui.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Um fio de telefone e uma dificuldade amorosa.

"Ligo ou não??" Todas essas esperanças e desesperanças parecem me matar aos pouquinhos.. And, honey, you should know that I could never go on without you. Todos esses desencontros me pertubam quando eu penso que podia te ver todos os dias, e que meus olhos não seriam capazes de guardar suas feições e eu ficaria irritada, por ter uma memória tão turva e uma mente tão esquecida. Eu esqueceria o tom certo dos seus olhos e só os redescobriria quando os visse novamente. Pra esquecer de novo. Acho que por isso não aguento muito tempo distante.. porque eu me esqueço. Esqueço do som da sua voz, da maciez do seu cabelo, do aconchego do teu abraço e de todas as coisas que me fazem olhar pra você e saber que você é quem eu escolhi pra passar o resto dos meus dias. Sem reclamar. Honrada. Feliz. Grata. Sua.
E essa é uma das coisas que mais me agradam em você: te redescobrir. Esquecer e lembrar o quanto eu gosto quando sua mão está na minha. Quando você canta. Quando você me conta o que está pensando. Quando você me liga só pra me dizer que me ama. Ou pra ouvir minha voz.
E eu, ligo ou não? Será que desistiu de mim ou achou que fui eu quem desisti? Eu não desisti. Jamais. Será que você desistiu? Será que agora você está pensando a mesma coisa com o telefone na mão? E eu fazendo papel de boba... ou de maluca. Maluca soa bem. Soa correto.
E ninguém me tira de perto desse telefone agora. Se você me ligasse, a última gota de felicidade que falta no meu coração cairia. Cairia como uma gota cai num copo d’água quase cheio. Fazendo uma explosão e uma molhadeira de felicidade. Eu podia me afogar na aguaceira de alegria que é ouvir você responder ao meu "Alô?", e ouvir você falar de tudo e de nada.. Porque ouvir sua voz do outro lado da linha já faz valer a pena.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Incitação à rebeldia (ou seria à consciência?)

A prisão é despercebida, é suportada com paciência. Nossa liberdade no mundo em que vivemos se reduziu a pó, enquanto nós estamos parados, observando o que é a prova viva de que a palavra “auto-destruição” não é fictícia. Não é uma fantasia. Nós acabamos com o que temos (no passado e no presente), e temo questionar se continuaremos com tal hábito. É possível que suportemos a vida e o que fizemos dela sem sentir um peso nos ombros? Você nunca se sentiu cansado dos feitos de outros seres humanos sobre você? Nunca se sentiu usado?
Batalhamos e estudamos e suamos e corremos atrás do dinheiro. Porque o conhecimento agora não é mais o que move o mundo, é o que move o dinheiro no mundo. Estudamos e aprendemos não para adquirirmos um pouco do mundo em nossas mentes, e sim para conseguir o dinheiro que nos manipula e nos prende. Somos escravos do dinheiro, e então morremos. Você vive sua vida pelo dinheiro, você não vive sem o dinheiro. Você nasceu pelo dinheiro! Soa agradável pra você?
Soa agradável todo o nosso planeta ser destruído por nossas cobiças mesquinhas e egoístas? Emitindo gases que nem loucos num planeta que nem é nosso, nem é de ninguém... Porque todo mundo tem mania de grandeza. Todos querem mandar em todos ao seu redor, quando a posse é supérflua. Vocês querem possuir tudo e todos, com que propósito? Políticos querem governar o mundo, com que propósito? Ao sermos governados somos chamados de irracionais, por causarmos conflitos sem supervisão adequada. Tá me entendendo? Você precisa de alguém pra te governar e mandar em você, te restringir das suas vontades, porque você e o resto do mundo sozinhos causariam danos demais. 
E seus governantes mentem pra você! Você paga pra ter seus desejos limitados, e nem metade dos seus direitos você possui. Porque pegam o dinheiro que você deu para que te governem, e não usam pra você. Percebeu o quanto nós somos marionetes nesse mundo? Percebeu o mínimo de liberdade que nós temos (senão nenhuma)?

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

menina, vento, janela.


Foi assim: Tinha um sofá embaixo da janela. Era enorme e era de madeira. Nele havia várias almofadas deitadas, fazendo parte do conforto. Era ali pelo meio que ela se encontrava, com seu livro nas mãos. Aquele amontoado de palavras para uma menina tão pequena. Ela, em seu vestido vermelho, só aproveitava a tarde. A janela atrás dela era gigante e parecia mais uma vidraça feita por anjos. Era feita de mosaicos coloridos que pintavam a casa quando o sol batia. Mas não fazia sol e a vidraça monstruosamente grande se encontrava fechada. Não era um dia muito claro mas não era completamente escuro. Eram quatro - quase cinco - horas da tarde e nada poderia ser mais agradável.
Só que.
O vento aconteceu.
Ele batia cada vez mais forte e barulhento, dando a impressão do mundo inteiro estar sussurrando. A cortina amarela se mexia inexplicavelmente descontrolada.
Mas ela não ligava. E daí que o vento sopra? Que seja.
E no sofá, no aconchego das almofadas e do conforto, com o mundo nas mãos, foi aí que aconteceu.
A janela enorme, trancada atrás da menina, fazia que queria abrir. O vento fazia que queria empurrar. Colocar a casa abaixo. E a menina, nada. Nada a assustava. E a janela e o vento, num confronto enorme iam se chocando. 
Até que.
O vento ganhou. A vidraça enorme se espatifou, assim, do nada, com a força do vento. Desse jeito.
A menina nada fez além de ficar parada assistindo, os cacos de vidro e os destroços lentamente voarem a sua frente. Era a cena mais bonita que já tinha visto. O sol de repente deu o ar de sua graça e refletia em todos os pedaços quebrados de vidro que voavam. 
O barulho era horrível. A imagem era linda. E a beleza e o horror ali seguiam juntos.
Ela não ousou se mexer. A vidraça tinha ganhado vida e estava voando pela sala, caindo lentamente no chão, na mesa de centro, no sofá, na menina. E essa imagem ficou congelada em sua mente. O tempo parara. De repente ela via todos aqueles cacos flutuando, brilhando, reluzindo, hesitando à queda. Ela não entendia, mas alguns cortes já começavam a aparecer em seus braços, mas ela não ligava. Só observava os cacos parados no ar num timing perfeito. 
E aí o transe acabou.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Marrom quase vermelho

Eu sei que você precisa de silêncio pra ler. Eu sei que enquanto você lê as palavras saem da folha e voam ao redor, as mais belas imagens são criadas pelas palavras que você lê. Tudo é lindo nas suas visões. Nada dá medo.
Você precisa de silêncio porque quando há barulho as palavras caem. Desmoronam. Cenários de peças incríveis são escondidos por lonas gigantes, cor de um marrom quase vermelho. Essa é a sua cor quando você pensa nas tragédias, marrom quase vermelho. Juro que um dia descubro o nome dessa cor.
Gosto de chamá-la pelo seu nome. Porque ela me faz lembrar você e tudo que envolve você. Essa é a cor do seu café. Essa é a cor do seu cachecol favorito. Essa é a cor que você mais adora no céu, quando são quase seis horas. Essa cor poderia ter o seu nome. Você tem o tom dela. Sua personalidade tem o tom dela.
Ontem você sonhava. Eu sei que sim porque enquanto dormia, sua respiração acelerou. Você revirava. Era mais uma das vezes que você tinha pesadelos. Marrons quase vermelhos. Imaginei dessa vez que nos seus sonhos haveriam um cenário lindo. Um palco gigante. Com pinturas lindas ao fundo e atores muito bem vestidos. Câmeras soltavam seus flashes cegantes e fotógrafos reclamavam uns com os outros por não terem espaço o suficiente para fotografarem.
Mas aí alguma coisa aconteceu. Eu sei que aconteceu. Você começou a respirar alto demais. Aconteceu alguma coisa? O teatro pegou fogo. Porque as coisas boas em seus sonhos sempre pegam fogo? 
O contra-regra, que segurava as cortinas, as soltou para correr por sua vida. Lonas marrons quase vermelhas caíram sobre o palco, os atores, as pinturas. O fogo vinha mas não vinha num vermelho meio laranja. Ele se arrastava e alastrava numa cor diferente, só vista nos seus sonhos. Marrom quase vermelha. 
Aí você acordou. Eu fingi que dormia. Você foi dançar pela sala, esquecer seu sonho. E foi espalhar suas alegrias e angústias marrons quase vermelhas pelo mundo.
Você deixou um bilhete que dizia: “Você ainda dormia quando saí, não quis pertubar tua calma. Volto o mais rápido que puder.”
Mas, por favor, volte logo. Poucas palavras vindas de você e só de te observar pela manhã, enquanto você se afogava em sonhos e pesadelos, formaram um mistério que eu gosto de tentar desvendar. Você é um mistério que eu gosto de tentar desvendar. Sinto que te conheço tão bem, e te conheço quase nada. Pode me dar a honra de descobrir e redescobrir você? Num tom que só eu e você conhecemos, marrom quase vermelho.

sábado, 11 de junho de 2011

É isso?


Um dia eu estava vendo dois meninos discutindo, a ponto de cair na porrada. O motivo? Um esbarrão; Não era pra tanto, esbarrões acontecem, não era coisa pra se estressar.

Mas é isso aí, parece que o homem está perdendo a cabeça. Está deixando de ser um ser racional pra ser um irracional.

É nisso que estamos vivendo? Namorado matando namorada ? Pais jogando seus filhos no lixo? Filhos matando pais? Amigas se matando por causa de um menino? Pessoas lutando por seus direitos e sendo chamadas de marginais e irresponsáveis? Políticos roubando nosso dinheiro escancaradamente?

É isso mesmo?

sábado, 4 de junho de 2011

Democracia? Onde?

Liguei minha televisão num sábado de manhã. Me assustei com o que vi e mal sabia que as imagens que vi estavam prestes a piorar. Haviam homens ajoelhados em um campo, todos formando, visto de cima, uma imagem que dizia: “SOS”. E os jornalistas ficavam repetindo: bombeiros presos. Eu não entendia nada até aí.
Depois, foram mostradas imagens de aglomerações nada harmoniosas, o que me fez ficar arrependida de não ter ligado a TV antes. Assim, poderia saber o que aconteceu. Eu estava prestes a desligar a TV para pesquisar sobre o acontecimento na internet, quando eu ouvi a seguinte frase: “Agora vamos ver o que aconteceu”. Muito obrigada.
Ao meu ver, tudo começou quando elegemos políticos cuja preocupação maior não é o povo e o bem-estar desse povo. São eles mesmos. Ao nível do jornal, tudo começou quando bombeiros insatisfeitos fizeram um protesto contra seus salários, que deveriam ser maiores, pois salvam vidas. E não foi um exagero. R$950,00 pra sustentar uma família? É isso que se ganha em troca de arriscar a própria vida por outros? É isso que se ganha em troca de salvar vidas?
Mas essa não foi a única preocupação desses bombeiros. Eles sim pensam em um bem maior. O líder da manifestação - cujo nome agora me escapa - fez uma declaração de que não tinham lanchas, caso aviões caíssem. Não tinham recursos para salvar vidas. Como poderiam salvar vidas sem os recursos que os bombeiros utilizam - ou deveriam utilizar?
Os bombeiros foram agredidos pelo BOPE, foram machucados, muitos passaram mal pelo gás que foi solto. Tudo porque são heróis e muito mal reconhecidos. Eles só queriam um salário maior para suas famílias, e condições boas para continuarem fazendo o que fazem. E mais uma vez, o BOPE foi visto como herói. Nunca vi o BOPE salvar vida de ninguém, só retirar.
Os bombeiros foram presos. Foram presos por lutarem por seus direitos. O que me leva ao meu começo da história: os políticos. Para eles, os direitos - e me desculpem o uso do termo - que se danem. Os bombeiros foram presos pelo simples fato de terem incomodado os políticos enquanto eles estavam ocupados contando seu dinheiro. Foram presos pelos simples fato de terem se rebelado e com razão. É difícil lutar pelos seus direitos quando a irracionalidade predomina. Quando quem está disposto a salvar nossas vidas é tratado como marginal.
E para melhorar a situação, um convidado no noticiário ao qual eu assistia, disse: “É muito triste ver bombeiros tratados como marginais e sendo presos, sem terem cometido crime nenhum. Mas eles cometeram uma ilegalidade.” Foi aí que eu desliguei a TV. Ilegalidade? É ilegal desejar um salário digno pelo que se trabalha? Ainda mais quando o trabalho exercido é um de que todos dependem? É ilegal querer condições melhores para exercer o trabalho? É ilegal lutar por seus direitos? Me desculpem, mas se isso é ilegal temos que rever nossos conceitos.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Gente grande.

Conheci um rapaz. Ele é Gente Grande. Tem todas aquelas preocupações, como trabalho, contas à pagar (já ouviu falar nessas coisas?), comida pra colocar na geladeira. Como qualquer outro Gente Grande. À mim - uma menina com nenhuma preocupação além de manter o quarto limpo - só interessam seus olhos. Tinham uma cor diferente. Cinza. Gosto de acreditar que seus olhos costumavam ser azuis. Antes de virar Gente Grande. Porque, você sabe, depois que a gente vira Gente Grande, tudo acaba. Nossa inocência, nossa paixão pelo vento, por rir, por pular. Até a nossa paixão por viver. A visão fica cinza. O que antes eram ruas, cordas, carrinhos e amigos, agora são ternos, empregos, preocupações e amolações.
E esse rapaz me disse - não sei exatamente se foi pra mim, acho que foi mais uma daquelas confissões ao vento, quando se espera a solução cair do céu - que ele pensava seriamente em se matar. Se matar? Pra quê?, cheguei a pensar. Por que diabos alguém em sã consciência tentaria acabar com a diversão que é viver? Ele disse que se sentia sumindo. Que ao andar pela rua, sua mala caía umas quatro ou cinco vezes, sem cogitar ser muito distraído, achava mesmo que estava desaparecendo. Virando vento. Aquilo o pertubava. Inacreditavelmente. Então se matar seria só terminar mais rápido o trabalho de desaparecer. Só acelerando o processo, sabe? Ele já sumira de seus planos, sumira de sua vida, sumira. Não existem mais objetivos ali, dentro daquele Gente Grande. Ele passou a vida toda tentando alcançar uma meta, e quando alcançou, não era tão bom quanto pensou. Deixa essa vida pra lá, ele pensa. 
Mas eu, o que eu podia fazer? Diante daquele homem que mais parecia um arranha-céu, o que podia fazer? Disse a única coisa da qual tinha conhecimento.
Disse que agora que ele estava disposto a se matar e pôr tudo a perder, agora sim ele podia viver. Agora que ele descobriu que não tinha nada a perder, agora sim podia viver. Agora que ele descobriu que tem sim como largar essa vida, ele podia viver. Disse para ele ir e ser feliz. Pra esquecer essa história de se matar. Porque ela só entrou na cabeça dele pra ele perceber que ainda tem coragem o suficiente de largar mão de tudo. E se ele ainda tinha coragem o suficiente pra recomeçar, amigo, pedi que ficasse mais um pouquinho aqui. Pedi pra que deixasse Deus decidir a hora de partir. 

domingo, 27 de março de 2011

Ela na janela

Ela só tinha visto ele uma vez. Dentro de um ônibus quente e cheio, começaram a conversar. Ela se encantou por aqueles olhos verdes límpidos que a prendiam de uma maneira inexplicável, ela se encantou pelo seu cabelo preto que formava um envolvente desenho em suas ondas perfeitas. Ela era só uma menina, uma menina que mesmo achando que sabia de tudo, não sabia de nada. Ele era um homem, um jovem homem.

A partir daquele dia, ela não conseguia mais tirar o tal sujeito da cabeça. Ele era do exército e todos os dias, pela manhã, ele passava correndo embaixo da janela de sua sala, na escola. Quando ouvia o canto daqueles homens, disparava em direção à janela, com seus olhos ansiosos na busca por ele. Quando não podia olhar, ficava nervosa e fazia de tudo pra se conter. Quando podia, parecia um predador em direção a sua presa. Ela nunca mais tinha o visto, mesmo assim não desistia. Ela era orgulhosa demais pra desistir. Assim prosseguia todos os dias, sem escutar o que as amigas lhe diziam. Todos os dias, na sua caça interminável. Ainda não acabou. E ela não faz idéia do que a espera.

terça-feira, 22 de março de 2011

A vontade

Todos nós almejamos algo. Vivemos em função de nossos desejos e não ousamos nos considerar felizes até realizá-los. E mesmo afogados em nossa "total infelicidade" de não conseguir o que queremos, não paramos. Não desistimos. Já percebeu isso?
Mas espera aí. Não se sinta incrível e maravilhoso por isso. Só não fraquejamos pois ficamos tão vidrados em conseguir o que queremos, que não sobra tempo pra pensar em desistir. Não porque somos incrivelmente fortes e maduros. Mas porque não sobra tempo para reconhecer que podemos não alcançar nossas metas. Estamos muito ocupados correndo atrás delas. E por isso, não hesitamos.
Mas já parou pra pensar no que vai acontecer quando você não almejar mais nada? Quando finalmente conseguir tudo que quer? Você provavelmente pensou que vai ficar mais feliz do que nunca. Mas quando você parar de correr, e finalmente chegar onde queria, o que resta da sua vida? O que mais vai fazer você continuar em movimento? Ficar parado de repente não soa tão bem, soa? Depois que você batalhar para conseguir o que quer, pode perceber que era feliz enquanto se dizia infeliz.
Porque procuramos algo que nos mantenha em movimento. Nada além disso. Precisamos sempre de uma atividade nova, um livro novo, uma caminhada, só não podemos ficar parados! A falta de movimento sempre nos deixa um pouco solitários, um pouco tristes... e "um pouco" aos poucos vira "muito".
Estamos aqui simplesmente pela alegria de querer algo. Pela vontade. A vontade nos empurra pra frente. Mas quando a vontade passar, o que vai te empurrar?
Então, caro leitor, lhe digo: precisamos de corridas para continuarmos nossas vidas, não de linhas de chegada.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Pessoas e palavras, ações e interpretações

Precisava ler. Porque quem nunca se sentiu tão perdido que pensou numa solução vinda das palavras? Precisava escrever. Porque não há remédio melhor pra mágoa nesse mundo do que por esta em palavras!
Palavras tem um poder. Um poder muito estranho. Se uma frase é dita, a cada tom de voz cabe um sentido à ela. É, certamente, a mesma frase, as mesmas palavras, mas o que vem de dentro, é diferente.
Frases são um pouco como pessoas...
Vestimos camisetas, calças, tênis, casacos.. são as mesmas roupas, mas o que tem dentro (adivinha?) é diferente.
E assim como essas tais palavras também temos poder. Um poder igualmente muito estranho. Você vai esperar que eu fale em bem e em mal, estou certa? Vai esperar que eu lhe diga que as palavras podem ser benéficas ou maléficas. Um comentário pode te ferir ou alegrar o seu dia. Mas e se as palavras forem as mesmas, e o que tem dentro for diferente? Se uma frase e cada palavra que a contém for, supostamente, de um poder negativo, mas o jeito que se diz for diferente? Isso não muda completamente? Ou se outra frase for dita com total boa intenção, mas a interpretação do que vem de dentro for negativa?
Não existem palavras "do bem" e palavras "do mal". Existem palavras e maneiras de interpretá-las. Não existem mocinhos e vilões. Existem princípios interpretados de maneiras diferentes. 
Lembra que eu disse que as pessoas são um pouco parecidas com as palavras? Esquece o que eu disse.
Somos muito parecidos.

domingo, 20 de março de 2011

o sorriso e a angústia

    Bem daquele jeito falso que a gente costuma ter quando tá no fundo do poço, parei e disse: "Então tá, tudo bem." E coloquei um sorriso tão grande no rosto que apertou meus olhos de tal forma que denunciou as lágrimas, que aos poucos me escorriam pela face, enquanto eu tentava não tirar o sorriso de lá. Afinal, está tudo bem, não está?

sábado, 19 de março de 2011

Amizade

Estive pensando muito, ou até demais, sobre a Amizade. E pensando sobre como ela é o bem maior que a gente tem. E como às vezes a gente esquece disso. Acho que o que me levou à isso foi ver o quanto minha vida seria diferente sem alguém chamada a Amizade. Não consigo me enxergar sem ela. Acho que ninguém consegue. Porque os nossos amigos são aqueles que estão sempre lá pra plantar um sorriso em nossos rostos, pra nos apoiar, para serem a companhia que desejávamos (e azar se soou piegas).
Mas ainda tem gente que banaliza tanto. Tem sempre gente pra balanizar. Ninguém percebe mais, por exemplo, como é sério dizer que ama alguém sem o fazer, como é dizer considerar alguém um melhor amigo, na mais pura hipocrisia. Virou um hábito até comum. O que eu não suporto.
Quem diz se importar e não faz um esforco pra te desejar um feliz Natal. Diz te amar mas só fala com você quando precisa de ajuda, ou quando se sente sozinho. E te faz sentir como um substituto, que só está ali para passar o tempo, até que alguém melhor seja encontrado. Tenho pena de pessoas capazes de fazê-lo. Porque se perde uma amizade que poderia ser incrível.
E termino assim, concluindo: Valorize os amigos que tem ao seu redor. Porque a Amizade é para a vida toda. Nunca a deixe escapar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

liberdade finita

Ela vivia alegre, adorava voar por aí com os pássaros. Por onde passava deixava seu rastro mágico, encantava à todos que conhecia. Nas viagens que fazia pelo céu, quando parava, deitava sobre uma nuvem para descansar. Ela não tinha uma casa, mas não se importava com isso. Ela não tinha hora e isso nem ao menos passava pela sua cabeça. Ela não pensava no futuro.

Ela não queria mais nada. Tinha suas asas e sua liberdade que até então era infinita.

Até que um dia, cortaram suas asas.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Julgam uma música por quem a canta. Um livro por quem o escreve, uma foto pelo fotógrafo. Uma atriz pela peça, uma roupa pela estilista. Um texto pelo autor, um quadro pelo pintor.
Não se olha mais a obra. E sim o artista. E por considerar o artista bom demais ou ruim demais, automaticamente, a obra também o será. 
Mas quem sabe viver nesse mundo, reconhece que até de onde menos se espera pode sair algo que te emocione. E até de quem mais se espera pode sair algo que te choque.

Gosto de você assim

Gosto de você por ser assim. Por sorrir com o coração quebrado, quando ninguém apóia suas ideias, e por continuar feliz apesar das circunstâncias. Por não ligar para críticas ruins. Por fluir com a vida, aceitando cada mudança, sem se deixar afetar. Porque você não precisa da aprovação do mundo pra se aprovar.

terça-feira, 8 de março de 2011

Olhando pela noite

Meia-noite. Você vê a rua pela janela. Ou acha que vê. Se tivesse olhado direito, perceberia, ali na esquina, alguém tentando ter o celular de alguém, sorrateiramente. Se você tivesse olhado embaixo daquela árvore ali, veria um rapaz observando um menino que fazia cálculos em seu caderno, enquanto esperava seu ônibus no ponto, junto de seu skate, silencioso. Se você tivesse olhado atenciosamente, veria aquele gato andando pra lá e pra cá, miando para a Lua, quieto em seus passos e pulos. Teria visto também, um pouquinho mais lá atrás, um casal que se despedia, sem muitas palavras. Se você tivesse notado, veria as pessoas nas janelas de outros prédios, espionando o que também consideram ser a solidão da meia-noite. Sem perceber que a noite é tão cheia quanto o dia, só que muda.

Parabéns pra nós

Parabéns pra nós que somos doces e as vezes meio amargas. Somos determinadas, temos senso de humor, somos perfumadas. Parabéns pra nós que somos machucadas e ainda assim conseguimos ver um sentido na vida. Somos super-mulheres, sejamos nós loiras, morenas, advogadas, caixas de mercado, atrizes, fotógrafas, estilistas.. Todas nós somos especiais de um jeito único. Todas nós batalhamos, choramos, temos cólica, fazemos do impossível uma tarefa de cada dia. E nesse dia de hoje, eu dedico pra nós meus sinceros parabéns. Por sermos como somos. Por não desistirmos. Por continuarmos andando em frente. E por, ainda com os nossos problemas e batalhas, termos tempo de colorir a vida de muitos. Somos otimistas. Somos sorridentes. Ficamos felizes a toa. Temos criatividade de sobra e somos invencíveis, apesar disso não ser reconhecido. Somos mulheres. Parabéns para todas as guerreiras a que dedico este pequeno texto. Parabéns. Muitos anos de vida.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Diálogo carioca

Num belo dia nublado, num ônibus cheio e frio, sento ao lado de um menino, quando no próximo ponto entra um outro menino, que por ventura, era amigo desse que estava ao meu lado. Eis que ele fala:

- Koé, viado, tu nem foi ontem né?

- Pô, viadinho, minha tia morreu, to boladão!

- Ahh tá de caô, que vacilo!

- Serin.

E ficaram em silêncio.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ele existe?

Um dia, numa aula de matemática tudo caminhava tranquilamente bem quando o professor resolveu perguntar, do nada:

- Galera, quem aqui não acredita em Deus? Quem aqui é ateu? – Mais ou menos umas 5 pessoas levantaram a mão. O professor olhou e disse – Eu também, não acredito. Graças a Deus, eu não acredito – ironizando no ‘’Graças a Deus’’

Passado alguns minutos, o diretor aparece na sala, rotineiramente, para ver o desenvolvimento da turma. E papo vai papo vem com o professor e os alunos, eis que ele pergunta:

- Quem aqui não acredita em Deus? – de novo, as mesmas pessoas levantaram a mão, só que um pouco mais devagar. Foi então que ele começou a nos contar sobre um homem (cujo nome me foge) disse que por trás de tudo, tudo nesse mundo há uma inteligência por trás.

Ora, como assim? E ele pegou um relógio, ergueu-o na altura dos olhos e mostrando para todos disse – Estão vendo este relógio? – todos fizeram que sim com a cabeça – Alguém criou certo? – todos concordaram. Depois que todos concordaram, ele apontou para a lâmpada acesa e disse – Estão vendo essa lâmpada? Alguém criou.

Todos concordavam com que ele ia dizendo, todos com medo de questionar, até porque ninguém tinha a sabedoria daquele velho homem. Com paciência, todos escutaram prestando a atenção – Agora, pensem – continuou o diretor – pensem em toda a complexidade do corpo humano, pensem em como é extraordinária e perfeita que é a natureza. Existe alguém por trás disso, existe uma inteligência por trás disso, NADA brotou do NADA. Agora pensem, só isso - eu estava ali olhando para ele e com os ouvidos bem abertos não deixei escapar nada. Sabias palavras.

- E então, quantos de vocês são ateus mesmo? – disse o diretor. Todos ficaram quietos e timidamente foram levantando as mãos, lentos. E então o diretor prosseguiu – O problema é que todos vocês estão acostumados com um Deus que é severo demais. Um velho barbudo que fica te olhando com cara de desaprovação, como se você estivesse fazendo tudo errado. Aí sim, nesse Deus eu também prefiro não acreditar. Mas mesmo assim, pensem naquilo que eu falei.

Todos ficaram quietos, nenhuma palavra. O professor assentiu e disse – É, é bem legal o que disse, é interessante – com a expressão meio dura, meio desconfortável. Aquilo tudo fazia muito sentido. O diretor saiu da sala, e o professor retomou a aula e todos pareciam que tinham saído de um transe.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Viajar

...Nas Férias

Definitivamente não tem coisa melhor do que viajar! É essencial para nós seres humanos um tempo para pôr a cabeça no lugar, para se divertir, para não ter que se preocupar com nada É um bom tempo pra se organizar, conhecer lugares novos, gente nova, ampliar nosso campo cultural e um bom tempo até para descobrirmos mais de nós mesmos. Uma viagem pode nos trazer muitas coisas boas, mais até do que imaginamos.

Se afastar um pouco do que a gente vê o ano inteiro. Ficar com um pouquinho de saudades de casa é sempre muito bom, porque quando voltamos tudo parece diferente, fica com um gostinho melhor, e até demora um pouco para nos recuperarmos de umas BOAS férias!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Embora

Ela foi embora. Embora devesse ficar. Foi embora, embora seu coração dissesse “fique”. Foi embora daquela cidade. Embora a amasse tanto. É só que, embora tudo lá ainda a fizesse lembrar dele, embora ela se foi. Embora seja tarde demais, ela já se fora. Não há voltas quando se vai embora. Embora devesse haver.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Quem sabe?

Eu achava que nada nunca ia mudar, que as coisas iam continuar daquele jeito. E eu odiava isso. E as coisas acabaram mudando, e eu nem percebi. De repente a gente já não faz as mesmas coisas, a gente já não se sente do mesmo jeito. E amanhã pode estar tudo renovado. Acho isso o maior barato, você dormir sem saber se vai ter mudado de ideia amanhã. Se vai acordar querendo outras coisas, ouvindo outras músicas, vestindo outras roupas. E quem sabe, daqui a três anos, você não olhe pra trás e sinta falta das músicas que ouve hoje, das roupas que veste hoje, de querer o que quer hoje.
                Mas não é pra você ficar chateado não. Imagina se você quisesse as mesmas coisas, fizesse as mesmas coisas, e tudo fosse do mesmo jeito, pra sempre. Eu prefiro ficar mudando assim, sem perceber, e ter coisas das quais eu possa me lembrar feliz daqui há três anos. E dizer: “Como era bom naquela época! What’s next?”

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Feito-para-corações-partidos

Mas ela não queria se identificar com nenhum desses textos feitos-para-corações-partidos que lia. Queria lê-los e simplesmente pensar: “não sei do que se trata. Nunca amei demais, nunca quis demais, nunca esperei demais de ninguém. Nunca amei errado. Graças à Deus, não preciso cuidar do meu coração. E se vir mais um desses textos pela frente, vou ter vontade de vomitar. Falo sério. Não sei o que esses textos me dizem. Simplesmente não me identifico.”
                E depois desse pensamento, riu de si mesma. Quando crescesse queria ser exatamente assim. Não se identificar. Se identificar é bom, porque você acha que outros te entendem. E é ruim, porque você vê que também tem muita gente com o mesmo problema que o seu. Vários corações partidos vagando por aí. Esperando por um texto feito-para-corações-partidos para se apoiar.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Os desejos de amanhã

E à partir daquele momento, nas horas finais do ano, soube: sempre acabaria no chão da cozinha, comendo qualquer coisa sem estar realmente com fome, vestindo roupas sujas e cheirando a cigarro. E então pensou: Cá estou novamente, sentada aqui, assim como no ano passado, e no ano anterior, e no anterior... Durante o ano, vejo coisas diferentes, sinto coisas novas, presencio momentos mágicos, e no final, sempre me vejo aqui. À perguntar ao chão da cozinha qual seria meu novo sonho. Qual será minha vontade quando acordar amanhã. Talvez viajar, fazer um curso, sentir o vento no rosto, suspirar. Ou talvez todos esses. Uma garota pode sonhar, não pode? E realizar seus sonhos, será que pode?
          Confesso que morro de medo desse(s) desejo(s) de amanhã. Já quis coisas desesperadamente, e no final, não era bem assim. Acabei no chão da cozinha reclamando de um dia ter desejado aquilo. Será que o que seja lá que eu vá desejar amanhã, vai me prejudicar mais tarde? Pensando bem, poucos os meus desejos de amanhã não me decepcionaram. A maioria deles me mostrou aquela coisa do ‘cuidado com o que você quer porque pode conseguir’. Eu quero conseguir e não me preocupar em ter cuidado. Ou será que meus desejos serão sempre tão errados?
          Isso, eu só vou descobrir, se eu tentar realizá-los. E é isso que me motiva a levantar do chão da cozinha e encarar mais um ano. Meus desejos de amanhã.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Entre

Poderia ficar ali, entre o chão empoeirado da cozinha e o teto que agora parecia baixo demais. Beberia entre duas ou três taças de vinho antigo que restara no armário, ouviria aquela canção entre quatro e cinco vezes, até a vitrola não aguentar mais, pra ter certeza de que aquela história não fora fruto de sua imaginação. Não fora, não poderia ser. Ela pairava entre a consciência e a imaginação. Entre seu vestido de bolinhas e o chão, um cigarro entre os dedos, entre um gole ou outro, um acorde ou vários, pensava: como eu vim parar aqui? Entre a verdade e a mentira. Entre tantas coisas que agora desconheço. Sempre entre, nunca antes, nunca depois. Entre.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Incerteza

É a única coisa que tenho certeza, aliás: da incerteza. Sou mais incerta do que pareço. O único quadro no qual minha incerteza desaparece é nesse: nada é certo. Nada é pra sempre. Tudo muda. Querendo ou não, ainda tem muita vida lá na frente.
Só não me pergunte sobre outras coisas. O que quero ser, o que quero comer, onde quero estudar, como vou me virar. Não sei, não sei, não sei.
E porque essa incerteza toda, não sei também.