sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O mágico da Rua 93

Venham que minhas palavras talvez sejam insignificantes, mas que o belo sorriso da moça os faça ver a beleza, a gentileza, a crueldade. Se vocês fossem prestar atenção ao que lhes digo, veriam: parece adorável que alguém sente na rua e lhes conte historinhas para que fiquem encantados, mas não poderiam essas serem histórias de terror? E se todos aqueles monstros que moravam embaixo de tuas camas voltassem para os atormentar? Desculpem-me se ao longo de nossa jornada citarei cenas horríveis e lhes contarei sobre humanos monstruosos, mas a verdade é que, se há trevas atormentando almas, talvez atormentarão a de vocês, também. Boas intenções são bem-vindas, sim, para serem estraçalhadas e jogadas fora. Obrigado de qualquer jeito pela preocupação.
Não me perguntem por quê. Poupem um pobre mágico de pedidos de esclarecimento de dúvidas. Não me sentei aqui nessa rua para lhes explicar nada, entendam. Sentei-me aqui para contar. E enquanto conto teus ouvidos devem estar abertos e atenciosos e suas perguntas caladas e amarradas numa cadeira aos fundos de tuas mentes. Se um mágico diz, obedeça. Ou fuja correndo, se assim lhe for conveniente, e enquanto há tempo. O que lhes digo é a verdade, não é coisa que invento.
Tenho aqui uma caixa, tal que me alimenta. De sonhos. Sonhos da vida da gente. Mas, que pena, todos esses sonhos, sonhados em vão. Tantas foram as esperanças que foram criadas em cima deles, e vejam, eles fracassaram. Desapontaram. A menina que queria um amor verdadeiro. O menininho que queria ser jogador de futebol. A moça que desejava liberdade. O rapaz que queria conhecer a família. Todos. Eles. Em vão.
Não, não chorem ainda, tenho certeza de que seus desejos serão muito bem concedidos. Se a imaginação lhes for fértil, é claro. Agradeço pela paciência e atenção. O mágico aqui se vai lhes desejando um mundo de magia e ilusão. Sejam felizes enquanto podem ou pensam que são. E da Rua 93 me despeço dizendo que nunca estive aqui e que suas mentes se mostram agora mais enganosas que de costume. Se me vir passar novamente, por favor não insista, um mágico nunca revela seus truques. Tout le monde cherche quelqu’un pour jouer avec. Tout le monde cherche et ne le va pas rencontrer. Au revoir.