terça-feira, 12 de julho de 2011

Marrom quase vermelho

Eu sei que você precisa de silêncio pra ler. Eu sei que enquanto você lê as palavras saem da folha e voam ao redor, as mais belas imagens são criadas pelas palavras que você lê. Tudo é lindo nas suas visões. Nada dá medo.
Você precisa de silêncio porque quando há barulho as palavras caem. Desmoronam. Cenários de peças incríveis são escondidos por lonas gigantes, cor de um marrom quase vermelho. Essa é a sua cor quando você pensa nas tragédias, marrom quase vermelho. Juro que um dia descubro o nome dessa cor.
Gosto de chamá-la pelo seu nome. Porque ela me faz lembrar você e tudo que envolve você. Essa é a cor do seu café. Essa é a cor do seu cachecol favorito. Essa é a cor que você mais adora no céu, quando são quase seis horas. Essa cor poderia ter o seu nome. Você tem o tom dela. Sua personalidade tem o tom dela.
Ontem você sonhava. Eu sei que sim porque enquanto dormia, sua respiração acelerou. Você revirava. Era mais uma das vezes que você tinha pesadelos. Marrons quase vermelhos. Imaginei dessa vez que nos seus sonhos haveriam um cenário lindo. Um palco gigante. Com pinturas lindas ao fundo e atores muito bem vestidos. Câmeras soltavam seus flashes cegantes e fotógrafos reclamavam uns com os outros por não terem espaço o suficiente para fotografarem.
Mas aí alguma coisa aconteceu. Eu sei que aconteceu. Você começou a respirar alto demais. Aconteceu alguma coisa? O teatro pegou fogo. Porque as coisas boas em seus sonhos sempre pegam fogo? 
O contra-regra, que segurava as cortinas, as soltou para correr por sua vida. Lonas marrons quase vermelhas caíram sobre o palco, os atores, as pinturas. O fogo vinha mas não vinha num vermelho meio laranja. Ele se arrastava e alastrava numa cor diferente, só vista nos seus sonhos. Marrom quase vermelha. 
Aí você acordou. Eu fingi que dormia. Você foi dançar pela sala, esquecer seu sonho. E foi espalhar suas alegrias e angústias marrons quase vermelhas pelo mundo.
Você deixou um bilhete que dizia: “Você ainda dormia quando saí, não quis pertubar tua calma. Volto o mais rápido que puder.”
Mas, por favor, volte logo. Poucas palavras vindas de você e só de te observar pela manhã, enquanto você se afogava em sonhos e pesadelos, formaram um mistério que eu gosto de tentar desvendar. Você é um mistério que eu gosto de tentar desvendar. Sinto que te conheço tão bem, e te conheço quase nada. Pode me dar a honra de descobrir e redescobrir você? Num tom que só eu e você conhecemos, marrom quase vermelho.