sexta-feira, 19 de agosto de 2011

menina, vento, janela.


Foi assim: Tinha um sofá embaixo da janela. Era enorme e era de madeira. Nele havia várias almofadas deitadas, fazendo parte do conforto. Era ali pelo meio que ela se encontrava, com seu livro nas mãos. Aquele amontoado de palavras para uma menina tão pequena. Ela, em seu vestido vermelho, só aproveitava a tarde. A janela atrás dela era gigante e parecia mais uma vidraça feita por anjos. Era feita de mosaicos coloridos que pintavam a casa quando o sol batia. Mas não fazia sol e a vidraça monstruosamente grande se encontrava fechada. Não era um dia muito claro mas não era completamente escuro. Eram quatro - quase cinco - horas da tarde e nada poderia ser mais agradável.
Só que.
O vento aconteceu.
Ele batia cada vez mais forte e barulhento, dando a impressão do mundo inteiro estar sussurrando. A cortina amarela se mexia inexplicavelmente descontrolada.
Mas ela não ligava. E daí que o vento sopra? Que seja.
E no sofá, no aconchego das almofadas e do conforto, com o mundo nas mãos, foi aí que aconteceu.
A janela enorme, trancada atrás da menina, fazia que queria abrir. O vento fazia que queria empurrar. Colocar a casa abaixo. E a menina, nada. Nada a assustava. E a janela e o vento, num confronto enorme iam se chocando. 
Até que.
O vento ganhou. A vidraça enorme se espatifou, assim, do nada, com a força do vento. Desse jeito.
A menina nada fez além de ficar parada assistindo, os cacos de vidro e os destroços lentamente voarem a sua frente. Era a cena mais bonita que já tinha visto. O sol de repente deu o ar de sua graça e refletia em todos os pedaços quebrados de vidro que voavam. 
O barulho era horrível. A imagem era linda. E a beleza e o horror ali seguiam juntos.
Ela não ousou se mexer. A vidraça tinha ganhado vida e estava voando pela sala, caindo lentamente no chão, na mesa de centro, no sofá, na menina. E essa imagem ficou congelada em sua mente. O tempo parara. De repente ela via todos aqueles cacos flutuando, brilhando, reluzindo, hesitando à queda. Ela não entendia, mas alguns cortes já começavam a aparecer em seus braços, mas ela não ligava. Só observava os cacos parados no ar num timing perfeito. 
E aí o transe acabou.