sexta-feira, 13 de maio de 2011

Gente grande.

Conheci um rapaz. Ele é Gente Grande. Tem todas aquelas preocupações, como trabalho, contas à pagar (já ouviu falar nessas coisas?), comida pra colocar na geladeira. Como qualquer outro Gente Grande. À mim - uma menina com nenhuma preocupação além de manter o quarto limpo - só interessam seus olhos. Tinham uma cor diferente. Cinza. Gosto de acreditar que seus olhos costumavam ser azuis. Antes de virar Gente Grande. Porque, você sabe, depois que a gente vira Gente Grande, tudo acaba. Nossa inocência, nossa paixão pelo vento, por rir, por pular. Até a nossa paixão por viver. A visão fica cinza. O que antes eram ruas, cordas, carrinhos e amigos, agora são ternos, empregos, preocupações e amolações.
E esse rapaz me disse - não sei exatamente se foi pra mim, acho que foi mais uma daquelas confissões ao vento, quando se espera a solução cair do céu - que ele pensava seriamente em se matar. Se matar? Pra quê?, cheguei a pensar. Por que diabos alguém em sã consciência tentaria acabar com a diversão que é viver? Ele disse que se sentia sumindo. Que ao andar pela rua, sua mala caía umas quatro ou cinco vezes, sem cogitar ser muito distraído, achava mesmo que estava desaparecendo. Virando vento. Aquilo o pertubava. Inacreditavelmente. Então se matar seria só terminar mais rápido o trabalho de desaparecer. Só acelerando o processo, sabe? Ele já sumira de seus planos, sumira de sua vida, sumira. Não existem mais objetivos ali, dentro daquele Gente Grande. Ele passou a vida toda tentando alcançar uma meta, e quando alcançou, não era tão bom quanto pensou. Deixa essa vida pra lá, ele pensa. 
Mas eu, o que eu podia fazer? Diante daquele homem que mais parecia um arranha-céu, o que podia fazer? Disse a única coisa da qual tinha conhecimento.
Disse que agora que ele estava disposto a se matar e pôr tudo a perder, agora sim ele podia viver. Agora que ele descobriu que não tinha nada a perder, agora sim podia viver. Agora que ele descobriu que tem sim como largar essa vida, ele podia viver. Disse para ele ir e ser feliz. Pra esquecer essa história de se matar. Porque ela só entrou na cabeça dele pra ele perceber que ainda tem coragem o suficiente de largar mão de tudo. E se ele ainda tinha coragem o suficiente pra recomeçar, amigo, pedi que ficasse mais um pouquinho aqui. Pedi pra que deixasse Deus decidir a hora de partir.