sábado, 28 de janeiro de 2012

início.

E ali, sentada em meio a toda a água, eu descobri que ali era meu começo. Que a minha paz de espírito era grande mais. E que quando você dá leves petelecos na água, várias bolhinhas aparecem pra te dar “olá”, e elas são ainda mais convidativas se você acabou de passar xampú. A água caía do chuveiro e molhava meu cabelo, e o meu pequeno rio ali se formava. Ele desaguava na paz, na quietude. Eu senti como se uma parte de mim morresse, fosse embora junto com a água, como se morrer fosse desaguar... Evaporar. E uma tarde chuvosa, uma roupa quente, um lar, uma paz. Porque esse é um desafio que eu aceitei para que minha vida não fosse chata que nem a de todo mundo: eu iria ter paz mesmo quando tivesse todos os motivos para perder a saúde mental. Porque todos os problemas nada significam, e eu devia estar feliz só por estar viva. Por fazer parte da experiência. O xampú já tinha escorrido de todo o meu cabelo, minha pele cheirava a flores, minha mente cantava amores. O meu mais novo começo ali se formava, um janeiro de sol, mar, água que evapora, vai pro céu e depois volta. Cai que nem a água do chuveiro. Deixa poças no chão que, se você der leves petelecos, formam bolhinhas. A chuva vem anunciar um novo começo. Um novo ciclo. Mas isso tudo eu vi da janela, dentro do conforto da casa. E pensando na quietude da água e que se você pousar a pontinha do dedo nela, uma roda se forma, bem pequena, ao redor do dedo, e fica cada vez maior, fazendo uma roda cada vez maior, anunciando a todo o rio que seu dedo esteve ali. Disse “olá”. E como uma simples atitude tem o mesmo efeito de um dedo na calmaria da água. Tomar uma atitude é colocar o dedo no vazio da vida, e ver a onda se espalhar. Seja um telefonema inesperado, uma surpresa. Qualquer coisa que faça o rio se mover vale a pena ser feita. Qualquer coisa que faça a vida seguir cursos inesperados vale a pena ser feita. Só... vale a pena. Experimentar vale a pena. A gente só passa por aqui uma vez, creio eu. Preocupações demasiadas não valem a pena porque elas passam. O que importa é o que se faz para conseguir a paz aqui. Deixar tudo de ruim morrer, como se morrer fosse desaguar... Evaporar. E dançar na sala como se nada estivesse errado. Aprender a dar foi o que ganhei. Aproveitar a quietude e dançar sem música. Beija-flor no ar. Flores perfumadas e um acorde no violão. A beleza que se vê no menor das coisas. O rio fica lá, a água é que correu. Chega na maré, ele vira mar. Como se morrer fosse desaguar... derramar no céu, se purificar. Deixar pra trás sais e minerais. Evaporar.

2 comentários:

  1. Ual, que escrita foi essa menina? Muito bom, gostei bastante do blog e claro, seguindo!

    http://fazdecontatxt.blogspot.com.br

    ResponderExcluir